sexta-feira, 30 de abril de 2010

Dança dos Sentidos

Antes de te ver já te esperava, sabia que virias e o meu olhar percorria o espaço à tua espera enquanto não chegavas, incapaz de ouvir, falar, raciocinar, incapaz de ser. Ansiava pelo nosso encontro como se fosse o primeiro e na realidade até era. Mas ao sentir o teu cheiro reconheci-te imediatamente, embora não soubesse de onde, deixaste-me num estado de embriaguez que já conhecia… de outro tempo, de outra vida… não sei… o que sei é que me foi tão familiar como se ainda ontem o tivesse sentido… como se ainda estivesse na ressaca da ultima vez. Olhaste-me nos olhos e soube que esse olhar já me tinha olhado antes, disse-me o meu corpo numa resposta insana mas urgente, quase podia ouvi-lo gritar o teu nome com saudade… E o arrepio que me percorreu o corpo naquele momento, o calor que me invadiu a alma naquele olhar… esse arrepio deu-me a certeza… a certeza que já te conhecia, que já te tinha tocado, que já te tinha provado, que o meu corpo já se tinha perdido no teu infindavelmente. Faltava-me saber quando, onde, até mesmo como… porque nesta vida não tinha sido, jamais teria sido capaz de te esquecer. Estivemos à distância de um olhar e a tua respiração roçou-me a pele enquanto falavas… ali naquele momento breve o desejo invadiu-me descontroladamente… ah, como quis matar a saudade do que ainda não conhecia, mas que sabia já ter sido meu.

Com um só olhar desafiaste-me a entrar nessa aventura contigo… na aventura do querer saber quem tínhamos sido. Fizeste-o sedutoramente sem falar mas em jeito de criança traquina e em jeito de criança traquina eu disse sim… Disse-o porque algo me disse a mim que as nossas almas já se tinham cruzado antes. Esta sintonia de sentidos e quereres não se consegue num primeiro encontro, nem sequer numa primeira vida… ainda para mais quando esse momento, esse breve momento não passa disso, breve… breve para os outros, mas interminável para nós, capaz de nos deixar num êxtase total capaz de esquecer o mundo à nossa volta, levando-nos para uma realidade paralela onde só nós existimos, onde o tempo pára e nada mais interessa, nem as palavras. Soube naquele instante que te queria, que queria cair nos teus braços e deixar que me tomasses como tua… soube naquele instante que só voltaria a ter paz quando te descobrisse… novamente, quando te conhecesse… uma outra vez, quando te tomasse como meu nesta vida… como sabia já ter feito em tantas outras antes desta.

Por isso vem… vem resgatar-me à saudade do desconhecido. Vem tomar-me em teus braços e partir em direcção ao horizonte sem destino traçado. Por isso vem… vem cavalgar comigo nas asas do vento, num só salto chegar ao céu… conhecer-lhe o firmamento, fazer dele o nosso leito de amor, cobertos apenas pelo manto das estrelas, iluminados somente pela luz ténue do luar… Por isso vem… vem comigo dançar esta dança que se dança nua, despida de tudo e mais alguma coisa… de vidas e preconceitos, de corações partidos e sonhos desfeitos… de amores mal vividos mesmo parecendo mais que perfeitos. Vem que te quero enquanto a noite não chega, vem que te espero em desespero.



por Isabel Reis
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