sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Micro-momento


Num micro-segundo
De um micro-momento
Fizemos “crescer” o tempo
Fizemos “encolher” o mundo.

Naquele olhar que ficou
Numa estação esquecida
Naquela mão que me/te tocou
Num momento de vida…

Naquele micro-momento
Salguei-me no teu sorrir
Guardei tudo no esquecimento
Na dor daquele partir…


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

GRITO...


No sufoco do meu grito… sem querer descubro os teus…
No conter das minhas lágrimas… descubro as lágrimas que escondes…
…também…
Nas sombras que m’ensombram… cruzo-me com as sombras que te cercam…
No silêncio da minha revolta… acabo ouvindo a tua…
No negro que me envolve… encontro-me de frente contigo…
E aí… não aguento mais este conter, esta vontade de esconder… e…

…GRITO… GRITO… GRITO…

GRITO como antes não tinha feito… e devia…
Arranco de mim o sufoco que me sufoca a alma…
Deixo correr soltas as lágrimas que já deviam ter corrido
Escondo-me na sombra que me queria esconder…
Faço de eco ao silêncio que me consome o peito…
Enfrento a escuridão que procurei… na ânsia por uma luz…
Ao faze-lo… dou de caras contigo… e…

…GRITO… GRITO… GRITO…

GRITO pelo tanto da minha tristeza que encontro no teu olhar…
GRITO pelo muito da minha dor que não te queria fazer passar…
GRITO pelo tanto de mim que sonhei poder-te entregar…
GRITO pelo muito de mim que sonhei não chegasses a chegar.


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo (auto-retrato)
todos os direitos reservados

Porto Novo


(um dia percebi como é)

Dilacerante a rebentação…
…que rebenta cada porto…
…na busca por se procurar…
…insanidade porém…
…ninguém lhe consegue chegar…
…enquanto ele não se encontrar…

(vi também que…)

Cada onda um recomeço…
…uma nova tentativa…
…uma nova vontade de chegar…
...vontade que morre porto a porto…
...em cada onda que lhe envelhece o mar…

(questionei-o porquê)

Ó mar que não desistes…
…diz-me porque insistes em encontrar…
…porque vês morrer as tuas águas…
…nas rochas que te cercam o procurar…

(em segredo confessou-me que…)

Cada porto é um porto novo…
…que não conheço até por lá passar…
…até posso morrer sem o encontrar…
…mas não hei-de morrer sem o procurar…




texto por Isabel Reis
foto por Pedro Sarmento

todos os direitos reservados

Recanto Longínquo...


No lado mais longínquo do mar... onde a água nos seca... e a areia nos molha os pés... onde a lua se passeia de mão dada às nuvens e o sol toma conta da noite estrelada... nesse lugar... onde os girassóis amarelos se pintam da cor dos sorrisos... e as mãos se tocam num só olhar... nesse lugar... nesse lugar encontrei o meu reino de encantar... aí sorrio.




No canto mais rochoso da terra... onde as rochas são de veludo e as escarpas nos tocam e arrepiam qual dedos de cetim... nesse canto esquecido por todos… lembrado por nós... é lá que encontras o jardim que te deixei recheado de recordações para te fazer sonhar sempre que voltares...



No céu onde os pássaros que nos rodeiam ao chegar se vestem de penas brancas qual nuvens de algodão e nos sussurram ao ouvido histórias de sonhos por sonhar... onde nos cantam histórias de amor por cantar... onde a relva em que rolamos deliciados em sorrisos e gargalhadas se cobrem de amarelo para nos agradar… aí onde nos perdemos a olhar a lua vestida do teu olhar radioso… nesse canto onde agora sentes o aroma das flores silvestres vestidas de memórias... onde relembras o meu corpo nú ser assaltado pelas gotas da água que nos cercava, o brilho do sol que nos sorria… aí nesse lugar fizeste-me prisioneira de um sonho… e eu fiz-te prisioneiro de mim...




texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

Lençois de Seda...



Lençóis de seda e branco puro
Onde me guardas num guardar seguro
Onde me inventas de todas as cores
Onde me provas em mil sabores…

Lençóis que se estendem pela madrugada
Que se enrolam na preguiça duma alvorada
Que se deixam rasgar em gestos discretos
Que se deixam guardar em sonhos secretos…

Lençóis onde o passado/presente fica esquecido
Onde o futuro já não faz sentido
Onde o mundo pára de girar
Onde o tempo deixa de contar
Onde o sonho vem para ficar…


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

Chegou a noite...


Chegou a noite… passei o dia inteiro à espera dela… à espera dos sonhos que ela me traz… sonhos salpicados de um azul quase negro… mas ainda assim azul… aconchegados numa lua que hoje se vestiu de algodão rosa e doce só para vir ao meu encontro…
Chegou a noite e eu deixei-me levar no embalo do seu chegar silencioso… dei ao mão ao seu sorriso, no sorriso de retorno… recebi o gosto do seu beijo demorado… sabia a morango com um ligeiro travo a canela… e… esqueci-me de entrar no sonho… já dei por mim a sonhar…
Chegou a noite regada a chocolate derretido em momentos curvilíneos de estradas percorridas sem sair do lugar… de horas perdidas num deserto de areia quente, mas sedutor… vazio de nada, tão cheio de tudo… onde a sede desperta a cada passo percorrido… mas somente o calor é capaz de a saciar…
Chegou a noite e eu que já esperava por ela abracei-a ao chegar… beijei-a ao de leve, afaguei-lhe os cabelos e sussurrei-lhe ao ouvido o quão bom é senti-la chegar… o quão bom é ouvi-la sorrir… o quão bom é pode-la tocar… o quão bom é faze-la sentir… sentir que estou cá quando ela chega… mas também quando não consegue chegar.



texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

Relógio do Tempo...


Pudesse eu parar o tempo naquele momento…
…e ainda estarias aqui…
Pudesse eu fazer um segundo durar horas sem fim…
…e os teus lábios ainda estariam nos meus…
Pudesse eu levar o compasso ao ritmo do meu passo
…e os nossos corpos ainda seriam um só…
Pudesse eu impedir o comboio de largar a estação…
…e seria ainda nossa essa ilusão…

Fosses tu o relógio que comanda a vida…
…que eu me deixaria entregue a ti…
Fosses tu raio de sol que se esconde da noite…
…que eu me esconderia em ti…
Fosses tu a sombra que fica esquecida…
…que eu nunca me esqueceria de ti…
Fosses tu a lágrima que cai do olhar…
…que eu seria olhar só para te sentir…
Fosses tu o amor que abraça o ódio…
…que eu seria ódio para que me abraçasses…
Fosses tu comboio que percorre o caminho…
…mas caminha sozinho… e eu caminharia contigo…
Fosses tu desejo que eu seria sentimento…
Fosses tu o relógio que eu seria tempo…
…para ser tua cada momento…
…que te quisesses para mim…


texto por Isabel Reis
foto por Filipe Carmo
todos os direitos reservados

Migalhas de Amor...

Migalhas de amor vadio Amor frio… escorregadio… Migalhas de amor pequeno Amor cruel… amor veneno… Migalhas de amor corrido ...