quinta-feira, 1 de abril de 2010

Estações da Vida


Todos nascemos Primavera… caminhamos inseguros, com passos incertos vemos a erva nascer, as flores desabrochar, as árvores ganharem cor e vamos caminhando… caminhando, esperando encontrar sempre flores pelo caminho… mas os passos são incertos, frágeis, sem a sabedoria que só a caminhada nos proporciona, e aí vamos nós de encontro ao Verão, tropeçando nas pedras que simplesmente vem ao nosso encontro, fugindo dos ventos frios que teimam em surgir, tentando evitar as chuvas frias tão próprias da estação. Mas vamos em frente, mais seguros a cada manhã de que o sol está a chegar e com ele o calor do Verão, a juventude da vida, a inocência de quem julga que já sabe tudo… mas ainda não sabe nada… e o que sabe é tão pouco que bater nas paredes é coisa certa… é a lei da natureza enquanto o Verão chega… enquanto a vida se desenrola.

E chegou o Verão… aí estamos nós com toda a força… julgamos ser capazes de tudo… e assim com essa confiança até somos, embora por vezes o mais sábio é sossegar os impulsos e esperar mais um pouco que o calor fique mais firme, que traga com ele o ar quente logo pela manhã… mas quem quer esperar, quando dorme sonhando com a praia, quando acorda saltando para os calções, pegando na toalha e correndo para a praia em direcção ao mar azul… sonhando um dia alcançar-lhe o horizonte. Tolice… tolice tão própria do Verão, ninguém é capaz de tocar no horizonte, mas na ânsia em lá chegar, vamos passando pelo Verão colhendo aventuras… boas, más, de tudo um pouco… mas que nos encaminham mais firmes, fortes e principalmente mais sábios para outra estação da vida… porque na lógica da natureza, o Verão traz sempre no seu encalce o Outono de folhas multi-cores.

E tão entretidos estamos que o Outono chega sem darmos por ele… quando percebemos o Verão já se foi e resta-nos agora relembrar e seguir em frente… vemos as folhas mudarem de cor, ficarem douradas, caírem e nem nos lembramos da sorte que temos… chegamos até aqui, infelizmente nem todos podem dizer o mesmo. No Outono da vida já somos mais… mais conhecedores, mais experientes, mas vividos, mais felizes… ou talvez não… depende do que fomos e vivemos até chegar ali… mas no geral já somos mais… até já somos mais pacientes, já ansiamos porque o tempo corra mais devagar, enquanto amaldiçoamos o tempo em que só pedíamos para o tempo correr depressa, tal era a urgência de o viver todo de uma vez. No Verão somos pouco e julgamo-nos mais, no Outono já somos mais e ainda nos parece pouco. Enfim… o ser humano é um insatisfeito, mas já é algo tão intrínseco em si, que faz parte da sua natureza… como uma estação da vida.

Caminhamos para o Inverno numa dualidade de sentimentos porque fazemos a caminhada na esperança e tentativa de resgatar o Verão, incapazes de aceitar o que temos… incapazes de aceitar o que já não somos mais… Na estação fria da vida, em que as folhas já quase não restam nas árvores, em que os ventos nos fustigam cruelmente relembrando o que já fomos, vivemos apenas rodeados de lembranças… lembranças que fomos recolhendo em cada dia de sol, em cada raio de luz, em cada chuva e folha caída… Na estação fria em que a noite chega depressa, em que o dia é apenas um vislumbre, os que ainda estão na Primavera, no Verão e até no Outono sorriem gozando, (nem imaginam que também um dia chegará a sua vez) e chamam-lhe insanamente a Estação Dourada da Vida… que de dourado não tem nada, é simplesmente a tomada de consciência que não tivemos antes, que o fim se aproxima… pode chegar a qualquer momento, tão depressa quanto as estações foram e vieram…

por Isabel Reis
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1 comentário:

Art'Anima Seixal-Associação Cultural disse...

Obviamente tudo o que escreves sobre as "Estações da Vida" todos nós estamos enseridos nelas. A natureza é a rainha das nossas vidas, e quem passa por todas as estações, seguramente, terá muito que contar...

Parabens, Isabel!
joellira

Migalhas de Amor...

Migalhas de amor vadio Amor frio… escorregadio… Migalhas de amor pequeno Amor cruel… amor veneno… Migalhas de amor corrido ...